A compreensão do movimento
tenentista nos idos da década de 30 do século passado, de acordo com Maria Cecília
Forjaz, deve partir da existência da posição social dos tenentes como membros
da classe média e da situação institucional como membros do aparelho do Estado.
Ela reforça que estas duas dimensões em conjunto dão força ao tenentismo,
explicando o fato destes serem em larga medida liberais-democráticos com vieses
autoritários e ainda buscarem apoio popular, sem antes organizá-los sob uma
perspectiva política. Esta mesma responsabilidade pelas instituições e em maior
grau, com vistas a defender a pátria e a construção de um país do futuro que os
fez contestar de forma violenta as bases da republica velha é a mesma em certa
medida que move todos aqueles envolvidos diretamente na manutenção da operação
Lava-jato e seus congêneres país afora.
A revolução não se cinge somente às
instituições – Ministério Público Federal, Tribunais de Contas, Receita Federal
e Polícia Federal –, é atravessada por anseios sociais. Ela tem um novo modelo
que destoa daqueles celebradosno século XIX e início do século XX. A
inflexibilidade legal é uma de suas marcas. Quando o imaginário coletivo de uma
época jamais ousou atravessar os limites inquisitoriais no qual apenas a
pobreza e a seletividade penal atuavam vergastando o espirito constitucional, a
operação lava-jato e suas esferas descortinaram o Brasil profundo. Esta segue
mesmo com as mais ferozes resistências.
O revolvimento socialguarda
singularidades e diferenças profundas do movimento tenentista. Salvaguardado
por uma Constituição Federal, seus atores se debatem em termos e princípios,
geralmente de forma desordenada, ocasionando uma ópera institucional
desafinada. O centro desta disputa é o judiciário. Os limites das decisões e
suas jurisprudências, ora seguem os revoltosos do sistema político que pugnam
pela horizontalidade punitiva estatal, ora seguem as duas premissas do senador
Romero Jucá num memorável áudio: “com o
Supremo, com tudo" e ainda outro que a omissão de amplos setores tenta
levá-lo ao esquecimento"protege o
Lula, protege todo mundo".
Para além de punitivismo, com o
qual este articulista guarda sérias restrições, o fato é que de 2013 para cá,
encara-se seriamente um pacto que vise implementar as práticas e princípios
republicanos. Parte da população está insatisfeita com a desigualdade
social;com os serviços públicos que não correspondem a tributação; com os
problemas ambientais - aqui é valioso analisar problemas ambientais levando-se em
consideração a qualidade de vida das pessoas nas cidades - e por fim, os
limites da democracia e o descolamento dos poderes constituídos aos anseios de
amplos setores.
Sob o espectro político, a
revolução republicana guarda outras resistências. A falsa simetria PSDB x PT
materializada principalmente nas eleições de 2014, trouxe consigo o imobilismo
das ruas. De um lado, a tentativa de setores do PSDB pós-2015 em capitalizar
contra o governo,manipulando o discurso contra a corrupção. A partir deste
ponto foi ativado o flanco reacionário dos antigos setores governistas; de
outro, toda a miríade de partidos e atores sociais que apoiavam o antigo governo
vêm centrando fogo na operação lava-jato, acusando-a de parcialidade. Acontece
que essa chave conspiratória caiu quando o PSDB e a base aliada do governo
Temer foram implicados nas mesmas investigações que submeteram o governo
petista.
Dos embates que a operação Lava-Jato
e seus suportes institucionais vêm travando junto ao governo Temer, surge uma
nova expressão abalizada pelas duas correntes– PT e PSDB- que se afirmam como
extremos políticos antagônicos, porém são uníssonos haver “jacobinismo judicial”
no Brasil.
Essa expressão é a chave para
entender as ferramentas de permanência discursiva que mantém a sobrevivência
destes dois grupos políticos. Ao atacar o pretenso jacobinismo dos atores
institucionais, os dois grupos se unem polissemicamente com vistas a manter e
conservar as mesmas relações Capital-Estado/Capital-privado. A ironia é que os
extremos não dialogam, esvaziando a construção de alternativas, reforçando como
consequência a busca por ídolos salvadores.
O cenário é de indefinição. Não
se deve tratar o esvaziamento das ruas como apatia política. É necessário tempo
para que o inconsciente coletivo possa compreender a consternação do luto
provocado pelos efeitos da condução dos dois aparentes extremos políticos.
Continua, no entanto, a percepção de que há algo fora do esquadro e que as instituições
parecem ter perdido legitimidade. Continua, também,ainda, a despeito de resistências
de toda a monta, o trabalho dos “Novos Tenentes” em busca de outras relações entre o
poder público e a iniciativa privada. A revolução republicana tende a
continuar.
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A Redação - 11/01/2017