Créditos: Canapi Agora
Entre privilegiados e excluídos,
Canapi que sempre sofreu as dores do egoísmo e da hipocrisia de muitos, hoje
agoniza as consequências de um duro golpe provocado pela corrupção generalizada
que de tão absurda e descarada foi destaque em rede nacional, o que não poderia
ser diferente, afinal de contas, de operação Triângulo das Bermudas e Deusa da
espada, a sanguessuga e gabiru, de tudo um pouco os canapienses já viram,
porém, em contrapartida, o que talvez muitos não vêem ou fingem não enxergar é a
terrível realidade de dezenas de conterrâneos que em pleno século XXI ainda vivem
em condições sub-humanas de moradia e em completo estado de extrema pobreza em
meio aos milhões de reais que escorreram pelo ralo da corrupção.
E foi com o objetivo de trazer a
tona esta triste realidade, que o blog Canapi Agora com o apoio de voluntários
visitou as comunidades de Poço do Boi, Boqueirão e Tupete para conversar com os
protagonistas desta triste história de muita dor, revolta e sofrimento, famílias
esquecidas pelo poder público e pela sociedade, que vivem a margem do direito,
em moradias que mais se assemelham a apriscos para animas de pequeno porte, as
conhecidas “casas de taipas” moradias
que retratam o descaso e a insensatez dos “senhores do poder” que mesmo sem se
importar com o sofrimento dos seus eleitores, poderiam ao menos respeitar Constituição
do país que em seu artigo 6º estabelece que todo cidadão brasileiro entre
outras garantias, tem direito a MORADIA, devendo o estado por obrigação
promover a efetivação de políticas sociais públicas que torne acessível este
direito.
A primeira
comunidade visitada foi à comunidade Poço do Boi, onde fizemos vários registros
fotográficos e conversamos com Dona Branca, uma mulher guerreira e batalhadora,
que junto com seu esposo Helhinho e mais 09 filhos dividem três cômodos de uma
residência que neste período de chuva sofre um enorme risco de desabar
ameaçando sua vida, a do marido e dos filhos. “Com essas chuvas, já está com
três dias que não durmo, tapando pingueira num canto e descobrindo em outro, e
vendo a qualquer momento a casa desabar sobre nós” – Disse Dona Branca
demonstrando enorme preocupação para com os próximos dias de chuva.
E a
preocupação de Dona Branca é realmente um sério problema que precisa ser
resolvido o quanto antes, tendo em vista que segundo as previsões
meteriológicas, os próximos dias em Alagoas serão de fortes chuvas por todo o
estado.
Pois bem; se
encerrássemos por aqui esta matéria já seria o suficiente para “levantarmos a
bunda” do conforto dos nossos lares e arregaçássemos as mangas para em união
ajudarmos nossos conterrâneos, porém, a coisa ainda é bem pior, pois se engana
quem acha que o grande problema que envolve famílias como de Dona Branca e seu
Helhinho é apenas a falta de moradia, haja visto que para sustentar os 09
filhos a única renda da família é o beneficio do programa social Bolsa Família
do Governo Federal, o qual consegue suprir o básico do básico da alimentação do
casal e das crianças, mas que se resume a mesma refeição seja de manhã, tarde
ou noite; (Farinha, Fuba, Arroz e Feijão)
e isso, sem qualquer mistura, haja visto que somente quando vão a cidade sacar
o dinheiro do cartão, ou seja, uma vez por mês, é que compram um frango. Não!
Você não leu errado, é isso mesmo, é com o dinheiro que muitos gastam num único
dia em uma “farrinha” em casa com os amigos, ou com aquela roupa nova que
comprou só pra não repetir a que usou na ultima festa, que Dona Branca se
alimenta junto com o esposo e os 09 filhos durante o mês inteiro. E é aquela
carne que dizemos estar abusados de comer todos os dias, que eles tanto queriam
saborear nem que fosse uma vez por semana.
Na casa de
Dona Branca não existe um só aparelho de rádio, TV ou parabólica, não existe
moto (ainda que fosse caindo aos pedaços) e nem mesmo bicicleta, o que existe
de fato é uma estante velha na sala, duas cadeiras quebradas, uma mesa, um pote
de barro, uma cama de casal e uma de solteiro com colchões que mais parecem tapetes
de tão desgastados. As crianças dormem pelo chão ou amontoadas uma nas outras
na cama de solteiro e na dos pais. A comida é feita no fogo a lenha dentro de
casa sobre o risco de incêndio, pois Dona Branca até tem um fogão, porém, não
tem botijão e quando teve nunca conseguiu manter a troca do gás. E se o casal que nunca conseguiu comprar o
gás, também não conseguiu manter a energia, que acabou sendo cortada por falta
de pagamento. A casa também não tem banheiro e as necessidades fisiológicas são
feitas ao ar livre no meio do matagal, pois um “emparado” feito de pano,
sacolas e lona, um pouco afastado da residência é utilizado apenas para o
banho.
Após
conhecermos a triste realidade da primeira família visitada, nos despedimos de
todos com um misto de sentimentos, indo do egoísmo a revolta e uma inquietação absurda
a corroer nossas mentes, nos impondo a necessidade e obrigação de fazermos
alguma coisa por essas famílias.
Fomos
sacudidos por um choque de realidade, e acreditem se quiser, principalmente pela
demonstração de fé dessas pessoas, por que não dizer, a verdadeira fé, pois
apesar de todo sofrimento vivido, todas as famílias visitadas nos confessaram
que não perdem a esperança de um dia morar com seus filhos em uma casa
confortável onde sua maior preocupação seja apenas trancar as portas antes de
dormir.
Saindo da casa
de Dona Branca, notamos que ao redor da residência havia um bom pedaço de terra
disponível para plantação, foi ai que perguntamos ao casal se não haviam
plantado nada de modo a aproveitar o período de chuva, logo, seu Helhinho
tratou de nos mostrar o quanto já havia plantado, ao tempo em que limpava outra
parte de terra para ampliar a plantação. Ali tivemos a certeza que não
estávamos diante de pessoas “acomodadas” com a miséria, mas de verdadeiros
sofredores que por falta de oportunidades na vida, hoje pagam um alto preço,
preço esse, que não desejam para seus filhos, todos matriculados e frequentando
a escola.
Finalmente
deixamos a casa de Dona Branca e partimos em busca de novas histórias, ou
melhor, novos personagens de um “filme” onde os fatos narrados se repetem, a
exemplo de uma irmã de Dona Branca mãe de 05 filhos e de Dona Damares, uma
senhora idosa que já não lembra mais a idade, mas fez questão de nos mostrar
sua humilde residência, um verdadeiro “aprisco”, onde se não conhecêssemos a
absurda desigualdade social deste país, jamais imaginaríamos que ali residiria algum
ser humano, porém, esta é a mais dura e cruel realidade, pois é numa “cabaninha”
de chão de terra batida, com apenas três minúsculos cômodos que Dona Damares
reside sozinha e Deus como ela mesma diz.
Logo ao
entrarmos na humilde residência de Dona Damares nos deparamos com um pau
colocado no meio da casa para segurar o telhado que ameaçava desabar, como
ocorreu com parte de um quartinho ao lado do qual ela dorme, porém, sem nada
poder fazer por ela naquele momento, só nos restou, ou ainda nos restou, a oração, e assim, oramos pedindo a
Deus por sua vida e seguimos viagem, pois o tempo era curto e ainda tínhamos
que visitar outros dois povoados, fizemos alguns registros fotográficos de
outras residência de taipa ainda na comunidade e na volta, ao passarmos em
frente à residência de Dona Damares a mesma nos parou e nos fez um pedido,
queria uma cama e um colchão, pois a sua cama está quebrada e o colchão já não
serve mais, não prometemos nada, porém, dissemos que iríamos fazer o que
estivesse ao nosso alcance para conseguir, então finalmente deixamos a
comunidade rumo ao povoado Boqueirão, onde encontramos Dona Nina, uma
agricultora que assim como Dona Branca, reside em uma casa de taipa com o
esposo e 09 filhos dos 14 que tiveram. Uma situação espantosamente semelhante a
nossa primeira visita, haja visto a quantidade de pessoas na casa, a falta de
renda, a estrutura da moradia, a falta do gás, o corte da energia por não
conseguir pagar a conta, o fogo de lenha dentro de casa deixando toda a madeira
completamente escura e sob o risco eminente de incêndio e desabamento em
decorrência das fortes chuvas. Mas apesar da semelhança entre as famílias, uma
coisa nos chamou bastante atenção ao entrarmos sala adentro da casa de Dona
Nina, pois já na cozinha, tivemos que nos agachar para poder transitar no
recinto devido o telhado ser muito baixo. Na hora da visita não encontramos o
esposo de Dona Nina em casa e a mesma nos disse que ele havia saído cedo para
trabalhar na roça.
Do Boqueirão,
encerramos o nosso dia com uma visita ao povoado Tupete, desta vez, não, mas,
com o objetivo de mostrar mais uma família em péssimas condições de moradia,
pelo contrário, fomos conhecer uma família que teve sua vida transformada por
um grupo de voluntários da Igreja Batista, alguns deles de fora do estado, que
simplesmente se uniram, colocaram a mão na massa e construíram uma nova moradia
para a família de Dona Maria que antes da ação, morava em uma casa de dois
cômodos (sala e quarto) com seus 04 filhos e que assim como todas as demais
famílias visitadas sobreviviam apenas do benefício do Bolsa Família do Governo
Federal. Na ocasião, não encontramos Dona Maria em casa, porém, fomos muito bem
recebidos pelo seu filho mais velho Maciel, que nos falou o quanto a vida dele,
de sua mãe e seus irmãos mudou depois da construção da casa. “Antes da construção dessa
casa, eu não tinha expectativa de vida pra nada, estava me entregando ao
álcool, pois me revoltava vive naquela situação, onde a rua era muito melhor,
hoje é diferente, sei que não moro numa mansão, porém, pra gente é uma mansão,
que resgatou em mim o prazer de buscar ser uma pessoa melhor, dá um futuro
melhor para minha mãe e meus irmãos e ajudar a quem precisa com fomos ajudados”
– Disse Maciel.
Bom! Assim
encerramos o nosso dia, porém, com a certeza que estamos apenas começando uma
longa caminhada em busca de uma solução para tanta injustiça e sofrimento, a
começar, cobrando junto às autoridades locais explicações sobre quais as
providências que estão sendo adotadas para erradicar de vez as casas de taipa
no município, e foi em busca destas respostas que tomamos conhecimento que o
STTR – Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Canapi, está
viabilizando um projeto denominado - Programa Nacional de Habitação Rural criado
em 2009 voltado para jovens e moradores de casas de taipa. A luta do STTR pela
efetivação deste projeto vem desde 2013 em parceria com a Federação dos
trabalhadores na Agricultura (FETAG) quando foi iniciada a fase de cadastro dos
agricultores, porém, os seguidos escândalos políticos ocorridos na Presidência
da República e nos Ministérios inviabilizaram a continuidade do projeto,
contudo, ainda de acordo com o sindicato, atualmente as coisas começaram a se
desenvolver e junto com a federação reorganizaram todas as pendências
cadastrais de acordo com as novas normas na expectativa da contemplação de 36
casas de alvenaria, toda na cerâmica, com um banheiro, uma sala, uma cozinha,
três quartos e cisterna, que o agricultor terá 04 anos de carência para começar
a pagar, num total de R$ 1.380,00 (cada) dividido em 4 parcelas de R$ 345,00
reais/ano. O STTR reiterou, no entanto, que tudo depende do Governo Federal, e
que mesmo apesar da atual conjuntura política do país vem buscando junto com a
federação agilidade dos órgãos responsáveis, confiantes que o projeto se torne
realidade.
Já a Secretaria Municipal de
Assistência Social do Município, disse que a longo prazo já encaminhou toda a
papelada para pleitear a implantação de um programa habitacional no município,
e que para tomada de providências emergenciais aguardará a publicação desta
matéria.
CONHEÇA AGORA O PROJETO:
CASA
SOLIDÁRIA
Construindo sonhos, transformando vidas!
“Se alguém tiver recursos materiais e, vendo
seu irmão em necessidade, não se compadecer dele, como pode permanecer nele o
amor de Deus? Filhinhos, não amemos de palavra nem de boca, mas em ação e em
verdade”. (1º João 3/17-18)
Objetivo: Construir casas de alvenaria
em substituição as casas de taipas habitadas existentes no município de Canapi,
bem como prestar assistência material e social as famílias.
Como contribuir
De duas formas: Ou com doação
material e/ou em dinheiro comprando as camisas do projeto ao custo de R$ 50,00
cada.
Como acompanhar as doações
Fazendo parte do nosso Grupo
Whatsapp (82) 981090678 (Marcio Martins) / 981137242 (Zé Maria) / 982259687 (Elianderson) 981221983 (Sergio Reis) e/ou acessando a Fanpage: Casa Solidária (em construção).
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A Redação - 11/01/2017