O que irei relatar agora, é um fato verídico do qual fui um dos protagonistas e que reflete o que muita gente vem passando todos os dias diante dos abusos de pessoas que se encontram na profissão errada, que não tem coração e muito menos respeito para com seus semelhantes.
Por: Marcio Martins
Recentemente na condição de conselheiro tutelar, acompanhado do também conselheiro Adriano Nogueira, estive a acompanhar uma criança de 08 anos e sua tia ao Hospital Clodolfo Rodrigues, em Santana do Ipanema-AL, devido à negligência e a falta de condição financeira da mãe da criança, criança esta, que há 06 meses encontrava-se com o braço ferido e defeituoso, mesmo depois de operado devido a uma queda, enquanto brincava como qualquer criança da sua idade.
Ao dar entrada no hospital, fomos muito bem atendidos, nos identificamos, fizemos a ficha e pouco tempo depois a criança estava sendo atendida pelo médico, o qual logo pediu um raio-x do braço do garoto, analisou e nos pediu que 07 dias depois voltássemos com a criança em jejum para realização da cirurgia, voltamos para casa e na data marcada retornamos com a criança em jejum pronta para ser operada, mas antes de tudo isso ainda no hospital uma das enfermeiras nos pediu para que novamente acompanhássemos a criança que possivelmente não seria operada na data marcada, como realmente não foi! Na data marcada, voltamos ao hospital e após 03 horas de espera pelo atendimento médico e com a criança a 12hs sem comer absolutamente nada, o mesmo médico que havia marcado a cirurgia, se negou a atender a criança, mim dirigi até a sua sala e perguntei porque o garoto não seria operado e ele mim respondeu que a emergência estava lotada, que haviam muitos pacientes para atender e não seria possível realizar a cirurgia, pedi pelo amor de Deus que desse um jeitinho e operasse o garoto, pois seu sofrimento a 06 meses tinha virado rotina, que novamente estava em jejum e que o lugar onde morava era de difícil acesso, distante a quase 30km da sede do município, mas não adiantou e o mesmo de maneira estúpida disse que eu ganhava pra isso, respondi que não era competência minha fazer nada disso, mas se necessário faria, sempre que fosse para ajudar alguém e sendo uma criança então, principalmente. Foi ai que novamente tentei convencê-lo a operar o garoto e ouvir a mesma desculpa sobre a lotação da emergência, perguntei então: Qual a emergência deste país que nunca está lotada e ouvi como resposta, que o SUS era assim mesmo e que se eu estivesse achando ruim, denunciasse, respondi: Quer dizer que se uma pessoa que precisasse de atendimento médico morresse sem ao menos receber os primeiros atendimentos, seus familiares deveriam se conformar, porque o SUS era assim mesmo. Confesso que fiquei surpreso com o que estava ouvindo de um profissional da medicina, que em seu juramento, jura tentar amenizar o sofrimento das pessoas e salva suas vidas, mas retruquei perguntando para que o mesmo recebia, disse ele que era para atender, respondi que não parecia e o mesmo mim pediu para que mim retira-se da sala, entregando uma possível data para realização da cirurgia desta vez com outro médico. Sai da sala indignado com a falta de sensibilidade e de educação do médico e acima de tudo preocupado com a criança a qual não sabia quando seria operada, sai do hospital, e fiquei pensando no que iria fazer a partir daquele momento, resolvi então seguir o conselho do médico, procurei a direção do hospital e denunciei o caso pedindo providências quanto a conduta do mesmo e ao atendimento da criança, logo o responsável mim pediu por escrito tal denuncia e se prontificou que na nova data marcada pelo médico irresponsável a criança seria atendida e operada. Na data marcada pela terceira vez com a criança em jejum a mesma apesar de horas de espera, foi atendida, feito novo raio-x e após insistirmos muito, visto que somente naquele dia o médico de plantão já havia realizado sete cirurgias e ainda haviam 69 pessoas a serem atendidas, graças a Deus conseguimos internar a criança para realização da cirurgia, deixamos o hospital deixando a criança e sua tia e voltamos para casa, no mesmo dia a criança foi operada e no dia seguinte estava de alta. Enquanto ao médico que se negou a atender a criança contra ele foi aberta uma sindicância para apurar sua conduta médica e diante do procedimento adotado pelo seu companheiro de profissão ficou provado que lotação, não é motivo suficiente para deixar de atender ou atender maus os pacientes.
Lutamos, não desistimos, persistimos e conseguimos, no entanto, quantos ainda estão sofrendo ou irão sofrer com o péssimo atendimento nos hospitais, dias a espera de uma simples consulta ou até mesmo de um mísero raio-x e o pior! Quase sempre sem ter ninguém a dar uma palavra a seu favor. O que devemos compreender não são estes absurdos, pelo contrário devemos compreender que o SUS só será assim até quando permitirmos, pois tanto os profissionais que nele presta serviço, quanto aqueles que fiscalizam, somos nós que pagamos.
Achei pertinente em dividir esta história com todos aqueles que visitam este blog não no sentido de mim vangloriar, mas para que venha a servir de exemplo de que não podemos nos acomodar as injustiças que diariamente somos vítimas, que possa incentivar a denunciar os péssimos profissionais lotados à frente dos serviços públicos e que venha a encorajar a todos a lutar pela efetivação dos seus direitos e pelos direitos dos seus semelhantes.
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A Redação - 11/01/2017