Milhões de reais teriam sido
gastos em uma suposta fábrica de picolés. Veja a matéria e a citação em negrito
da denuncia de corrupção que envolveu o município.
Quem matou PC Farias? “Com certeza o local do crime foi alterado”, diz repórter que acompanhou investigações.
Jornalista passou quinze dias em Maceió acompanhando as investigações.
Por: Gabriela Flores/CadaMinuto - 04/05/2013
Há mais de 32 anos exercendo a profissão de jornalista, o repórter da rede de TV Band, Fábio Pannunzio falou com o CadaMinuto a
sua experiência na cobertura do caso que envolveu o assassinato de
Paulo César Farias e da namorada Suzana Marcolino.Em junho de 1996, o
repórter foi encaminhado a Alagoas para acompanhar as investigações do
caso PC Farias. Nas duas semanas que passou por aqui Fábio comentou que
teve acesso à residência onde aconteceu o crime apenas uma única vez.
“Estive no local do crime acompanhando a visita que o médico legista
Badan Palhares fez para que iniciasse seus estudos do caso”, lembrou
Pannunzio.
O jornalista destacou que ao chegar a Maceió, exatamente um dia depois
da morte de PC e Suzana, “a Polícia Civil já sustentava assertivamente a
tese de homicídio seguido de suicídio. Havia um notório esforço para
conduzir as investigações nessa direção”, reforçou.
Apesar de permanecer interditado, “o local do crime foi violado”,
segundo o jornalista. A cena apresentada não foi a mesma da noite do
crime. “Com certeza o local foi alterado. Lembro-me que os funcionários
da casa haviam modificado a cena, o que foi inclusive foi objeto de
apontamentos públicos”, disse Panuzzio.
Depois de passar 15 dias acompanhando as investigações e todo o
desenrolar da história, o jornalista afirmou que não sabia o que se
passou efetivamente. “Tenho convicção de que a cena descrita pela
perícia contratada ao médico Badan Palhares era inverossímil. Houve um
episódio que me marcou profundamente. Um dia, ao reconstituir a cena, o
Badan jogou no chão, com força, uma agenda pessoal. Ouvimos o barulho do
choque do outro lado da cerca, já dentro da faixa de areia da praia.
Aquilo deixou claro que o barulho de um disparo de arma de fogo não
passaria despercebido aos ouvidos dos seguranças. Para nossa surpresa,
no laudo ficou evidenciado que os seguranças não poderiam ter ouvido o
disparo porque era noite de São João”, revelou Pannunzio.
Por ser um homem influente na política e que andava nas altas rodas do
poder, PC Farias poderia ter alguns desafetos. Diante disso o jornalista
ainda acredita que a morte de PC Farias foi “queima de arquivo”.
Já outras linhas de investigação tentaram atribuir a morte do
empresário à namorada, alegando que Suzana teria atirado no PC e depois
se suicidado. Diante dessa tese e acompanhando o caso de perto,
Pannunzio frisou que “Suzana Marcolino poderia sim ter matado PC Farias e
depois foi morta por um dos seguranças. Havia também rumores do
envolvimento dela com um desses rapazes. Na época, isso não chegou a ser
considerado pela polícia, que estava mais empenhada em ‘sepultar’ a
hipótese de duplo assassinato do que em elucidar os fatos”.
Agora, depois de 17 anos o caso volta à tona e levanta todas as
inquietações da época do crime. Vários nomes, motivos e suspeitos
começam novamente a emergir. As expectativas do país estarão todas
voltadas para Alagoas, pois foi um caso de repercussão nacional e que
até hoje é um mistério.
“Espero que o processo judicial possa repor os erros dolosos do
inquérito policial. O Brasil tem o direito de saber quem matou aquele
homem e o motivo do crime”, disse o jornalista.
Algumas correntes sociais e até juristas alegaram à época que a
imprensa tinha manipulado a opinião pública. Diante dessa afirmação
Pannunzio reforçou que “se foi isso mesmo, acho perfeito. É papel da
imprensa fiscalizar o funcionamento da máquina pública, isso inclui a
polícia. Com certeza havia algo estranho ocorrendo entre os policiais
que faziam bico como seguranças do PC”.
O jornalista Arnaldo Ferreira, que atualmente está na direção de
jornalismo da TV Alagoas, foi um dos profissionais que mais matérias
relacionadas ao caso PC Farias redigiu. Ferreira lembra que antes do
assassinato de PC já trabalhava no caso Collor e lembra que “nas
décadas de 60e 70, PC atuava no setor de venda de carros para órgãos
públicos e tinha uma relação muito próxima dos políticos”, observou.
Ferreira relembra que PC Farias era uma figura discreta. “Não aparecia.
Veio a aparecer quando entrou na área da comunicação e começou a
incomodar o ex-presidente Fernando Collor. Após as denúncias feitas por
Pedro Collor sobre caixa 2 na campanha de Collor à presidência, fábulas
de dinheiro federal gasto na construção de obras fantasmas, milhões de
reais destinados para fábricas de picolés em Canapi, enfim esses
escândalos começaram a aparecer na mídia nacional e começaram a revelar
quem intermediava a chegada dos empresários a Brasília, que era Paulo
César Farias”, afirmou.
Houve então o impeachment de Collor e o fato gerou um forte
envolvimento da justiça para investigar os dois (Collor e PC). Ferreira
lembra que “PC ficou praticamente sozinho e mesmo sozinho nunca falou
nada contra Collor. Se manteve calado. Fugiu, se escondeu e terminou
sendo encontrado em Bangcoc . Foi preso e inicialmente ficou retido em
Brasília, mas depois pediu pra cumprir a prisão no Corpo de Bombeiros,
aqui em Maceió. Nesse ínterim Collor estava exilado em Miami”.
No Corpo de Bombeiros, Arnaldo Ferreira relatou que PC Farias
“costumava fazer favores . Chegou a doar um Jet Sky e comentam nos
bastidores que também ‘ajudava’ as pessoas e então havia uma espécie de
disputava para ver quem iria levar um simples copo de água para ele”.
Paulo César Farias, mesmo sendo considerado um dos homens mais
influentes na política nacional naquele momento, era uma figura muito
discreta. Pouco se sabia da vida pessoal dele. Ferreira então recorda
que “na morte do pai de PC, foi quando apareceu pela primeira vez Suzana
Marcolino, já do seu lado como namorada”.
Ferreira disse que nunca vai esquecer o domingo, 23 de junho de 1996.
“Estava dando uma caminhada na praia quando me ligaram e pediram que
fosse imediatamente à casa de praia de PC porque havia acontecido um
crime. A partir desse momento houve muita especulação e as informações
eram um pouco desencontradas. A primeira notícia que tive foi que PC
tinha matado Suzana e se suicidado. Depois vi que a confusão era muito
maior. A autopsia de PC foi feita com uma faca de pão no Instituto
Médico Legal. Nada funcionava no estado e o crime também descortinou
para o país as carências de Alagoas e o abandono político”, afirmou o
jornalista.
As investigações duraram vários dias. Profissionais de todo o país
estavam acompanhando de perto as perícias. Varias vertentes eram
reveladas diariamente, porém Ferreira é enfático quando diz que até hoje
não se fechou o caso. “Quando se fala em Suzana Marcolino e PC Farias é
um mistério. Viviam no submundo dos negócios, da política, da
prostituição. Suzana frequentava boates e tinha relacionamentos com
alguns políticos de Alagoas. Muitas pessoas poderiam ter motivos para
querer matá-los.Tudo é muito nebuloso. Esse episódio da história
política do país tem alguns problemas que começam com a falta de zelo
nas investigações”, ponderou Ferreira.
“Tecnicamente a única coisa forte é a tese do delegado Cícero Torres
que revela que, Suzana matou PC Farias porque sabia que ele já estaria
tendo um relacionamento com uma mulher, que era parente de um político
alagoano muito conhecido. Suzana então teria matado PC e depois ela se
matou pois não aguentaria estar perdendo a sua galinha dos ovos de
ouro”, colocou Ferreira.
Houve muitas investigações com provas e contra provas de diversas
vertentes. “É um momento em que a justiça brasileira está querendo
passar a limpo muita coisa. Esse caso envolve o poder federal e o poder
político nordestino. O silencio destes 17 anos acabou permitindo várias
conjecturas. A história é como a maré. O mar recebe tudo, mas devolve o
lixo. A história não guarda o lixo. Se não for agora, em algum momento
vai trazer à tona a verdade”, finalizou Arnaldo Ferreira.
Família, juiz e delegados
A reportagem do CadaMinuto tentou contato com Ingrid e Paulo César,
filhos de PC Farias, e com Augusto Farias, mas o advogado José Fragoso
informou que eles não concederiam entrevista antes do julgamento. Já o
juiz Maurício Brêda afirmou que por estar estudando o processo não teria
tempo para falar com a equipe.
Os delegados Alcides Andrade e Antônio Carlos Lessa afirmaram que têm
um “pacto” de não falar mais sobre o assunto. O delegado Cícero Torres
também disse que não se pronuncia mais sobre o caso.
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A Redação - 11/01/2017